A escola, para muitas famílias, é sinônimo de confiança. É o local onde os filhos devem estar seguros, acolhidos e estimulados a crescer. É onde se espera que aprendam não só conteúdos acadêmicos, mas também valores como respeito, empatia e justiça. No entanto, em algumas dolorosas exceções, esse ambiente se transforma em um espaço de medo e sofrimento — e, por vezes, o causador desse sofrimento é justamente quem deveria ser o protetor: o educador.
O bullying escolar praticado por educadores é um tema ainda cercado de silêncio, medo e desinformação. Pouco se fala sobre professores que, abusando de sua posição de autoridade, ridicularizam, intimidam ou menosprezam alunos diante de colegas ou de maneira velada. Mas a verdade é que isso acontece — e os impactos são devastadores.
Neste artigo, vamos abordar esse fenômeno com seriedade, sensibilidade e responsabilidade. Vamos compreender como ele se manifesta, os danos que provoca, e principalmente, como pais e responsáveis podem agir para proteger as crianças. E, ao fazer isso, esperamos contribuir para transformar dor em mobilização e silêncio em voz ativa.
Nosso relato real
Nosso filho tem 16 anos e é diagnosticado com TDAH. Um adolescente reservado, sensível e muito observador. Nos últimos meses, passamos a perceber mudanças marcantes em seu comportamento: passou a evitar falar sobre a escola, apresentava sinais de ansiedade antes de sair de casa e, em alguns dias, simplesmente se recusava a ir. Com o tempo — e depois de muito acolhimento —, ele nos confiou algo devastador: vinha sendo alvo de atitudes constrangedoras por parte de uma professora.
Segundo ele, a docente frequentemente fazia comentários irônicos sobre sua maneira de pensar, menosprezava suas participações em aula e chegou a expor erros de forma debochada diante dos colegas. “Ela me faz parecer ridículo na frente de todo mundo”, ele disse, claramente abalado.
A sensação de impotência foi imediata. O educador, que deveria ser um guia e exemplo, estava, na verdade, se tornando uma fonte de sofrimento diário. A partir desse momento, nos mobilizamos não só para proteger o nosso filho, mas também para entender como enfrentar esse tipo de violência institucional.
Esse episódio — doloroso e injusto — nos motivou a escrever este artigo. Porque sabemos que outras famílias passam por experiências semelhantes, muitas vezes em silêncio. E é justamente esse silêncio que queremos quebrar.
O que é bullying escolar praticado por educadores
Bullying escolar é, por definição, qualquer comportamento intencional, repetitivo e agressivo que visa ferir, intimidar ou excluir alguém no ambiente escolar. Quando essa atitude parte de outro aluno, a situação já é grave. Mas quando o agressor é um educador — alguém com poder institucional e autoridade sobre o estudante —, a violência se reveste de um caráter ainda mais devastador.
O bullying praticado por professores, coordenadores ou outros funcionários da escola pode assumir diversas formas, muitas vezes disfarçadas sob a aparência de “disciplina” ou “crítica pedagógica”. Mas o padrão se repete: há uma ação contínua e sistemática que humilha, constrange, inferioriza ou isola o aluno. Existem sinais de alerta que podem surgir diante de situações de violência emocional, e o olhar atento da família e da equipe escolar é essencial.
Entre os comportamentos mais comuns desse tipo de intimidação estão:
- Comentários sarcásticos ou depreciativos sobre a aparência, inteligência ou comportamento do aluno;
- Gritos, humilhações públicas ou comparações pejorativas com outros colegas;
- Ignorar deliberadamente a participação do aluno em aula;
- Atribuir notas injustas com base em critérios subjetivos ou punitivos;
- Usar a autoridade para manipular ou isolar o estudante perante a turma.
Diferente de um conflito pontual, o bullying por parte de educadores é sistemático e sustentado por uma relação de poder. O aluno, por estar em uma posição de vulnerabilidade, sente-se frequentemente impedido de reagir, denunciar ou mesmo entender que está sendo vítima de um abuso.
Essa violência silenciosa se esconde muitas vezes atrás da naturalização de frases como “ele precisa aprender a lidar com críticas” ou “é só o jeito duro do professor ensinar”. Porém, educar não significa humilhar. Autoridade não é sinônimo de autoritarismo. E a sala de aula nunca deve ser um palco para abusos travestidos de ensino.
É fundamental reconhecer que o bullying escolar praticado por educadores é uma forma de violência psicológica que precisa ser nomeada, discutida e combatida. Seu impacto é profundo, atingindo diretamente a construção da identidade, a autoestima e o desempenho do adolescente.
Impactos emocionais do bullying escolar praticado por educadores
Quando um educador ultrapassa o limite do respeito e da ética profissional, os danos causados à saúde emocional do estudante são intensos e, muitas vezes, duradouros. Ao contrário do que muitos imaginam, o impacto de palavras ditas em tom de ironia, olhares de desprezo ou atitudes sistemáticas de exclusão vai muito além do momento em que ocorrem. Elas se fixam na mente e no coração do jovem, moldando negativamente sua autopercepção e sua relação com o mundo.
Ansiedade e estresse constante: Um aluno que sofre bullying por parte de um professor passa a viver em estado de alerta. A cada aula, a expectativa de uma nova humilhação ou crítica desproporcional gera tensão psicológica. Isso pode desencadear quadros de ansiedade, insônia, alterações de apetite e até crises de pânico.
Queda na autoestima: Quando a figura de autoridade da escola — que deveria incentivar, orientar e acolher — se torna fonte de desvalorização, o aluno começa a duvidar do próprio valor. Frases como “você nunca aprende”, “isso é burrice sua” ou “até fulano consegue e você não” são profundamente desmoralizantes, especialmente quando repetidas diante de colegas.
Medo do ambiente escolar: A escola, antes vista como um espaço de crescimento, passa a ser associada a sofrimento. O estudante evita o local, sente-se desconfortável com colegas por medo de julgamento, e muitas vezes deseja desistir completamente dos estudos. Esse afastamento pode causar isolamento social e interferir no desenvolvimento emocional.
Sensação de impotência: Diante da autoridade de um educador, o adolescente sente-se sem recursos para reagir. Denunciar parece arriscado, já que envolve enfrentar uma figura com respaldo institucional. Muitos temem retaliações, não serem levados a sério ou até prejudicados academicamente, o que aprofunda ainda mais o trauma.
Reprodução do comportamento: Em alguns casos, o aluno internaliza a agressividade sofrida e pode reproduzi-la em outros espaços, seja como forma de defesa ou como padrão de interação aprendido. Isso contribui para a perpetuação de uma cultura de violência, onde o elo mais fraco continua sendo silenciado.
Esses efeitos emocionais não desaparecem com o fim do ano letivo. Em muitos casos, é necessário acompanhamento psicológico para ressignificar as experiências vividas e reconstruir a confiança — tanto em si mesmo quanto nos adultos ao redor.
A violência emocional deixa marcas invisíveis, mas profundamente enraizadas. E quando ela parte de quem deveria promover cuidado, o impacto é ampliado. Por isso, é urgente que o bullying escolar praticado por educadores seja encarado como uma forma grave de violação dos direitos da criança e do adolescente.

Por que é ainda mais grave quando vem de um professor?
Quando falamos de bullying praticado por educadores, a gravidade da situação vai muito além do ato em si. Ela está profundamente ligada à posição que o professor ocupa no imaginário social, na estrutura escolar e na vida do estudante. O professor é, por definição, alguém que forma, orienta, acolhe, ensina — um modelo. Quando essa figura se torna a fonte de dor, o impacto emocional, psicológico e simbólico é multiplicado.
Autoridade + vulnerabilidade = trauma profundo
No contexto escolar, o professor detém uma autoridade natural. Ele tem o poder de atribuir notas, influenciar avaliações, definir comportamentos “aceitáveis” e conduzir dinâmicas de grupo. Já o aluno, especialmente na adolescência, está em um momento de formação identitária e ainda busca segurança nos adultos que o cercam. Quando há um desequilíbrio entre esse poder e o uso ético dele, o risco de trauma é altíssimo.
O bullying praticado por educadores fere diretamente essa equação de confiança. O aluno sente-se vulnerável e, muitas vezes, sozinho. Afinal, como enfrentar alguém que tem autoridade institucional e respeito da maioria? Como provar que o problema é real quando a postura abusiva é sutil ou acontece “entre quatro paredes”?
A quebra de confiança e o abalo na estrutura de apoio
A escola deveria ser um espaço de segurança emocional. E os professores, seus principais agentes. Quando essa função é corrompida, rompe-se uma das principais redes de proteção da infância e da adolescência. O jovem passa a desconfiar não só daquele educador específico, mas da instituição como um todo. Isso pode gerar um sentimento de abandono, de que ninguém está disposto a protegê-lo ou ouvir sua dor.
Além disso, esse tipo de bullying abala a relação entre escola e família. Pais que descobrem que seus filhos estão sendo maltratados por um educador passam a se sentir traídos pela escola — e muitas vezes não encontram apoio institucional imediato. A omissão, o silenciamento ou a minimização do problema pela direção escolar só ampliam a dor e a revolta.
A dificuldade de denúncia e a cultura da impunidade
Infelizmente, ainda existe um tabu em torno da denúncia contra professores. Existe o medo de que o aluno “esteja exagerando”, de que o educador seja visto como “rigoroso, mas justo”, e até de que as consequências para ele sejam excessivas. Essa cultura de proteção automática à figura do professor, mesmo quando ele ultrapassa limites éticos claros, dificulta a responsabilização.
Muitos adolescentes preferem se calar — por medo de não serem acreditados, por receio de represálias, ou por vergonha. E, assim, o ciclo de abuso se perpetua. Por isso, é essencial que as escolas criem espaços seguros de escuta e denúncia, com protocolos claros e imparciais de apuração.
Um professor que humilha, intimida ou constrange um aluno não está apenas “sendo severo”. Ele está violando direitos, rompendo vínculos e ferindo uma das bases da educação: o respeito mútuo.

Como agir diante desse tipo de violência?
Descobrir que seu filho está sendo alvo de bullying escolar praticado por um educador pode provocar indignação, medo e uma urgência por respostas. Apesar da carga emocional envolvida, é fundamental agir de forma estratégica, cuidadosa e informada. A proteção à criança ou adolescente começa com atitudes firmes e conscientes, que envolvem tanto acolhimento emocional quanto medidas práticas.
Escute com atenção e sem julgamentos
O primeiro passo é ouvir seu filho com empatia. Permita que ele fale, mesmo que de forma fragmentada, e não duvide do que está dizendo. Muitas vezes, o medo de não ser levado a sério impede o jovem de relatar com clareza. Demonstre apoio, diga que ele fez certo em contar e que agora vocês vão enfrentar isso juntos.
Documente os episódios com detalhes
Registre tudo. Anote datas, horários, frases ditas, contextos em que ocorreram as agressões. Guarde bilhetes, e-mails, prints de mensagens, ou qualquer outro material que possa servir como evidência. Se possível e permitido legalmente, grave conversas ou aulas. Esses registros serão importantes para apresentar à escola ou, se necessário, às autoridades competentes.
Converse com a coordenação ou direção da escola
Marque uma reunião formal com os responsáveis pela gestão escolar. Apresente os fatos de maneira objetiva, mostre os registros e solicite providências. Leve um acompanhante, se possível, para testemunhar a conversa. Após a reunião, envie um resumo por e-mail para registrar o que foi discutido e acordado. Se a escola minimizar a situação ou proteger o educador sem apurar os fatos, isso já é um sinal de negligência institucional.
Procure apoio jurídico ou institucional
Caso a escola se omita, ou se a situação persistir, acione o Conselho Tutelar da sua cidade. Eles têm a responsabilidade de zelar pelos direitos das crianças e adolescentes e podem intervir junto à escola. Outra opção é procurar a Defensoria Pública, o Ministério Público ou um advogado especializado. Lembre-se: qualquer forma de violência contra menores é passível de responsabilização legal.
Cuide da saúde emocional do seu filho
Independentemente das medidas externas, o suporte emocional é indispensável. Considere procurar apoio psicológico para seu filho e, se possível, para toda a família. A terapia pode ajudar a ressignificar a experiência, fortalecer a autoestima e prevenir traumas mais profundos. Em paralelo, mantenha um ambiente doméstico acolhedor, onde ele se sinta valorizado e seguro.
Conecte-se com outros pais e responsáveis
Você não está sozinho. Em muitos casos, outras famílias enfrentam situações semelhantes, mas não sabem como agir. Compartilhar experiências pode fortalecer redes de apoio, gerar ações coletivas e pressionar a escola a adotar mudanças estruturais.
Agir diante do bullying escolar praticado por educadores exige coragem, informação e persistência. Mas é essa postura que pode quebrar o ciclo de silêncio e proteger não apenas um filho, mas muitos outros que talvez estejam sofrendo em silêncio.

A importância de um ambiente escolar saudável e vigilante
A escola ideal vai muito além das boas notas. Ela é um espaço onde os estudantes devem se sentir respeitados, ouvidos e protegidos — inclusive contra abusos que possam vir de quem detém poder dentro daquele ambiente. Por isso, criar e manter um ambiente escolar saudável e vigilante não é um luxo, é uma necessidade urgente para garantir o bem-estar e o pleno desenvolvimento das crianças e adolescentes.
Formação continuada para educadores sobre ética e limites
Nenhum profissional da educação nasce pronto. A formação técnica é apenas o começo de uma jornada que exige atualização constante — sobretudo em aspectos relacionados a ética, empatia e manejo emocional. Investir em capacitações que abordem temas como escuta ativa, limites da autoridade, prevenção da violência institucional e saúde mental deve ser prioridade em qualquer instituição de ensino.
Educar não é apenas transmitir conteúdo: é cultivar vínculos, promover respeito e saber lidar com as diferenças de maneira humanizada. Quando o professor entende que sua autoridade deve estar a serviço da construção e não da opressão, o ambiente se transforma.
Cultura de respeito mútuo e corresponsabilidade
Uma escola vigilante é aquela que estimula uma cultura de respeito mútuo. Isso significa que todos — professores, alunos, coordenação, funcionários e pais — têm um papel na manutenção de um ambiente saudável. Normas claras de convivência, pactos institucionais e o incentivo ao diálogo ajudam a prevenir abusos.
Quando o respeito é uma prática coletiva, o espaço para comportamentos abusivos diminui. O aluno sente que pode confiar na escola. O educador entende que há limites éticos. A direção se compromete com a escuta e a ação.
Canal seguro e transparente de denúncias
Ter um canal oficial de denúncias — seguro, imparcial e acessível — é indispensável. Os estudantes precisam saber onde e como podem relatar comportamentos inadequados, sem medo de retaliação. E a escola precisa garantir que essas denúncias serão apuradas com seriedade, seguindo um protocolo justo e respeitoso.
Em muitas escolas, faltam mecanismos efetivos para lidar com queixas envolvendo professores. Isso alimenta o medo e o silêncio. Por outro lado, instituições que acolhem denúncias com escuta ativa, sigilo e providências concretas demonstram compromisso com o bem-estar de seus alunos.
Participação ativa dos pais e responsáveis
Pais e responsáveis não devem ser apenas informados quando algo grave acontece. Eles devem fazer parte da rotina escolar, seja por meio de reuniões, conselhos, grupos de apoio ou projetos integradores. Essa aproximação fortalece o vínculo escola-família e ajuda a identificar sinais precoces de problemas.
Mais do que serem chamados apenas em “casos graves”, os responsáveis devem ser convidados a construir uma escola melhor junto com a comunidade.
Um ambiente escolar saudável é construído com vigilância ativa, compromisso ético e uma cultura baseada em respeito e escuta. Ele não elimina todos os conflitos, mas estabelece formas justas e humanas de lidar com eles.
Conclusão: Quando o silêncio cessa, começa a transformação
Nenhuma família deveria precisar passar pela dor de ver um filho sofrer dentro do ambiente escolar — ainda mais quando esse sofrimento é causado por alguém em quem confiamos para proteger, ensinar e acolher. O bullying escolar praticado por educadores é uma realidade dura, mas não pode continuar sendo ignorada.
Ao transformar indignação em denúncia, dor em mobilização e medo em informação, abrimos caminhos para mudanças reais. E, principalmente, mostramos às crianças e adolescentes que eles não estão sozinhos — que existem adultos prontos para defendê-los, para ouvi-los, e para exigir o que é de direito: respeito, dignidade e segurança emocional.
A escola é uma extensão da sociedade. Se queremos um mundo mais justo e empático, é preciso começar por ela. É preciso formar educadores conscientes, promover espaços de escuta segura e estabelecer protocolos que impeçam abusos. E acima de tudo, é preciso coragem: para agir, para falar, para proteger.
A sua voz pode ser o fim do silêncio de alguém.
FAQs sobre: Bullying Escolar Praticado por Educadores
O que caracteriza o bullying escolar praticado por educadores?
É o comportamento repetitivo e agressivo por parte de um educador que causa humilhação, exclusão ou constrangimento ao aluno, usando sua autoridade de forma abusiva.
Como diferenciar um professor exigente de um professor abusivo?
Professores exigentes promovem disciplina com respeito. Já os abusivos usam ironias, humilhações públicas ou desprezo como forma de controle ou punição emocional.
Meu filho tem medo de denunciar. O que fazer?
Crie um espaço seguro de escuta, valide os sentimentos dele e informe-se sobre os canais institucionais de denúncia. Se necessário, busque apoio jurídico ou psicológico.
O que fazer se a escola ignorar a denúncia?
Procure o Conselho Tutelar, a Defensoria Pública ou o Ministério Público. Documente tudo e formalize a queixa por escrito.
A denúncia pode prejudicar meu filho academicamente?
A legislação protege o aluno contra retaliações. Escolas que punem vítimas por denunciarem abusos incorrem em falta grave e podem ser responsabilizadas.
Existe punição para professores que cometem bullying?
Sim. Eles podem ser advertidos, afastados ou até exonerados, dependendo da gravidade e da apuração institucional. Também podem responder civil e criminalmente.

Sou uma profissional apaixonada pela educação e pela psicopedagogia, com sólida experiência na criação de conteúdos educativos. Sou pedagoga, psicopedagoga clínica e institucional, neuropsicopedagoga e especialista em TEA, com formação em ABA, PECS e TEACCH. Atualmente, estou embarcando em uma nova jornada: a graduação em Psicologia.